Quem é que tem vontade de sorrir, dar gargalhadas, sentar-se num banco de jardim a olhar para as estrelas e ver se a lua continua redonda, pensar em coisas especiais da vida, pensar nas pequenas coisas da vida que nos fazem felizes?
Ela ainda conseguia olhar para o infinito, como se olhasse para o ponto mais longínquo do seu pensamento, mas era a verdade que estava mesmo à frente do seu nariz. Muito frequentemente é assim, as coisas* estão mesmo debaixo do nosso nariz e somos incapazes de olhar e, mais do que olhar, ver! É mais fácil agir segundo regras e leis impostas por outros, mas a isto ela chamaria a lei do menor esforço...
Chega de dispersão...
Mesmo com a crise pessoal debaixo de fogo ela continuava a sorrir, ela continuava a ir sentar-se naquele banco a olhar para as estrelas e, realmente, verificou que a lua continuava redonda. Ficou feliz com isso, afinal as coisas boas da vida não mudaram todas!
Mas enquanto caminhava pelo chão negro que lhe ofuscava a memória (caminhava quase como se contasse os passos que dava), sentia que talvez estivesse a ser irónica, mentirosa, falsa consigo mesma!
Aí, parou, olhou em redor e viu espaços vazios, viu que nada prestava atenção ao sorriso que tão naturalmente dava de graça a todos os que, mesmo não fazendo parte da sua vida, o mereciam.
Cansou-se de rir... não de sorrir, porque o seu sorriso sempre fora verdadeiro, mas as risadas escondem muitas vezes a tristeza que sente. Ri porque sempre foi habituada a fazê-lo, sempre se habituaram a vê-la assim e ela também se habituou a fazê-lo, mas agora chega. Descobriu que tem direito a estar triste, a chorar, a olhar para algo que a deixe feliz e não rir, mas sim chorar, de alegria. Tem direito a querer estar sozinha, sem dar justificações a ninguém, tem direito a querer falar apenas com quem realmente merece as suas palavras,...!
Mas conhecendo pessoas diferentes, pessoas que realmente são verdadeiras a cada dia que passa, percebeu que não custa nada ser verdadeira consigo mesma. Ou melhor, custa alguns palavreados soltos dos que não têm vida própria e que se ocupam a palrear a vida dos outros! Para além disso não custa mais nada.
Ela abriu os olhos,... a tempo!
*coisas: que é isso de coisas que atribuímos a tudo? Dêem nomes às coisas!!!