No dia em que ali cheguei as pernas tremiam. Nem
me lembro bem de pormenores desse dia. Não sabia o que me esperava, sabia
apenas que esta iria ser uma das melhores experiências da minha vida e uma enorme
aprendizagem. Estava longe de imaginar que iriam ser também alguns dos melhores
dias da minha vida. Pela experiência, pela aprendizagem mas, acima de tudo,
pelas pessoas que ali encontrei. Como digo sempre, são as pessoas que fazem o
meu mundo e, ali, encontrei algumas das melhores que um deus criou.
A parte mais difícil no
início foi decorar os nomes. É horrível e extremamente irritante estar sempre a
dizer "Desculpe, como é que se chama? Esqueço-me sempre do seu nome".
Grande mentira! Nunca o cheguei a decorar. Não por mal ou desinteresse, mas
porque realmente é muita informação para as primeiras oito horas, mas depois
foi encaixando aos poucos.
Não foi difícil
ambientar-me e sinceramente não há ninguém que eu possa dizer que, no primeiro
dia, não tenha gostado. Aliás nem no primeiro nem no último, porque de facto,
ali há seres humanos incríveis. Não perfeitos, mas incríveis.
Aprendi que rir é
realmente o melhor remédio, mas que chorar faz muita falta. Aprendi que o humor
se coaduna com a doença e a morte, e que esta, por mais dolorosa que seja, traz
sempre algo de bom, tem sempre algo para nos ensinar. Reforcei a aprendizagem
de que o idoso é o maior poço de sabedoria que existe e que um idoso doente e a
morrer, com consciência disso, sabe dez vezes mais. Aprendi que às vezes o
melhor som é o silêncio e que estar é muito mais importante do que falar.
Validei que de facto não é o doente que me deve agradecimentos, mas sim eu a
ele, devo o maior obrigada do mundo por tudo o que me ensina e por me deixar
entrar tão livremente na sua vida e na dos seus. Aprendi que não faz mal
apegar-me a um doente e ficar com um pedacinho dele no meu coração. Aprendi
tantas outras coisas (algumas que nem imaginava que existiam).
Aprendi sobretudo que a
vida acaba sempre por me surpreender mais e mais e mais, pondo no meu caminho
as pessoas que mereço. E sou tão agradecida por isso!
Levo cada um de vós (sem
exceção) no meu coração, para que, um dia, no fim da minha vida, me lembre que
houve pessoas que realmente me deram sentido.
Um agradecimento muito
especial à Dra. Susana, pelo que me ensinou, pela paciência, pelas partilhas,
por me dar tantas oportunidades para me tornar melhor. Melhor profissional e
melhor pessoa.
Graus académicos à parte, Alice, Cátia, Céu, Conceição Pardal, Conceição Toscano, Dora, Elsa, Francisco, Lourdes, Lurdes, Inês, Iria, Isabel, Joana, José Nuno, Manuela, Margarida, Maria José, Mário, Nuno, Rosa, Sandra, Sara Costa, Sara Oliveira, Susana, Vítor, a todos vocês e a toda a restante equipa do HAJC, obrigada!