terça-feira, 19 de julho de 2016

palavras são tretas?

palavras são só letras
são só confusões paradas
não passam de tretas
a aguardar serem encontradas
são testemunhos ricos
satisfeitos por humanos
tensos e poderosos
que esperam por ouvir
a palavra 'amor' certa
para o caminho a seguir

terça-feira, 5 de julho de 2016

verania

sobejam luzes amarelas
crescem sorrisos falsos
partem corpos enfadados
soltos em pleno verão
mártires de saltos altos
derrete-se o gelo quebrado
derretem-se as memórias
derrete-se a presença futura
mais do que um sacrifício
canta-se ao som das histórias

segunda-feira, 4 de julho de 2016

tudo tem um fim

se não houvesse dias
se não houvesse noites
dias e noites que provassem
que mostrassem, que sentissem
não doía tanto a mentira
não saía tanto do rosto
não ouvia tanto o coração.

quem mente uma vez
mente duas, mente três
perde a noção do ser
do amar, do querer.

tirada uma pétala
nenhuma flor volta
arrancado o coração
todo o amor se revolta.

aguardo ansiosa que não venhas
que não mintas mais
que não contes mais
não posso cobrar mais do que deste
morro de alegria pela escolha que fizeste.

Fuga

Olhas para o céu
E queres voar não é?

Fugir dos problemas, da realidade?
Mas lembra-te, a vida é só um dia.
Não transformes a tua vida
Em algo que não é.

Deixa o destino seguir,
Liberta-te da tristeza.
Encara a realidade de maneira realista
E aceita o que a vida te dá.
E depois olhas
Pensas que volta tudo igual
Só que a graça perdeu-se
A imaginação esqueceu-se de ti
E tu vives atulhada de pensamentos
Que mais do que razão
Dão-te cabo do coração


sábado, 2 de julho de 2016

Ai ai Fernando!

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar, 
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.

Fernando Pessoa

Obrigada e bem-haja!

No dia em que ali cheguei as pernas tremiam. Nem me lembro bem de pormenores desse dia. Não sabia o que me esperava, sabia apenas que esta iria ser uma das melhores experiências da minha vida e uma enorme aprendizagem. Estava longe de imaginar que iriam ser também alguns dos melhores dias da minha vida. Pela experiência, pela aprendizagem mas, acima de tudo, pelas pessoas que ali encontrei. Como digo sempre, são as pessoas que fazem o meu mundo e, ali, encontrei algumas das melhores que um deus criou.
A parte mais difícil no início foi decorar os nomes. É horrível e extremamente irritante estar sempre a dizer "Desculpe, como é que se chama? Esqueço-me sempre do seu nome". Grande mentira! Nunca o cheguei a decorar. Não por mal ou desinteresse, mas porque realmente é muita informação para as primeiras oito horas, mas depois foi encaixando aos poucos.
Não foi difícil ambientar-me e sinceramente não há ninguém que eu possa dizer que, no primeiro dia, não tenha gostado. Aliás nem no primeiro nem no último, porque de facto, ali há seres humanos incríveis. Não perfeitos, mas incríveis.
Aprendi que rir é realmente o melhor remédio, mas que chorar faz muita falta. Aprendi que o humor se coaduna com a doença e a morte, e que esta, por mais dolorosa que seja, traz sempre algo de bom, tem sempre algo para nos ensinar. Reforcei a aprendizagem de que o idoso é o maior poço de sabedoria que existe e que um idoso doente e a morrer, com consciência disso, sabe dez vezes mais. Aprendi que às vezes o melhor som é o silêncio e que estar é muito mais importante do que falar. Validei que de facto não é o doente que me deve agradecimentos, mas sim eu a ele, devo o maior obrigada do mundo por tudo o que me ensina e por me deixar entrar tão livremente na sua vida e na dos seus. Aprendi que não faz mal apegar-me a um doente e ficar com um pedacinho dele no meu coração. Aprendi tantas outras coisas (algumas que nem imaginava que existiam).
Aprendi sobretudo que a vida acaba sempre por me surpreender mais e mais e mais, pondo no meu caminho as pessoas que mereço. E sou tão agradecida por isso!
Levo cada um de vós (sem exceção) no meu coração, para que, um dia, no fim da minha vida, me lembre que houve pessoas que realmente me deram sentido.

Um agradecimento muito especial à Dra. Susana, pelo que me ensinou, pela paciência, pelas partilhas, por me dar tantas oportunidades para me tornar melhor. Melhor profissional e melhor pessoa.
Graus académicos à parte, Alice, Cátia, Céu, Conceição Pardal, Conceição Toscano, Dora, Elsa, Francisco, Lourdes, Lurdes, Inês, Iria, Isabel, Joana, José Nuno, Manuela, Margarida, Maria José, Mário, Nuno, Rosa, Sandra, Sara Costa, Sara Oliveira, Susana, Vítor, a todos vocês e a toda a restante equipa do HAJC, obrigada!
a importância que as pessoas têm na minha vida é diretamente proporcional à felicidade que me causam. o topo pertence a muito poucos, mas são os que me fazem mais feliz. haja amor e alegria!