terça-feira, 20 de junho de 2017

trágico 17

sabemos lá o que é arder no inferno sem ser por pecados, o que é sentir a pele a queimar, ver os que mais amamos a  definhar perante uma malvadez tão grande como a das descontroladas chamas que assolaram a inocência de três, quatro, cinco, doze, quinze anos de tenra idade. mais do que dar palpites, criticar, prever, julgar, comentar, ter opinião de tudo e de nada... mais do que tudo isso, é preciso por a mão na consciência, perceber o que é que cada um de nós pode fazer para que a tragédia não nos bata à porta, para que não tenhamos daqui a uma semana ou um mês a nossa casa reduzida a cinzas ou para que não estejamos no velório do filho, do pai, do avô, do neto... ou no nosso. não foi só no Pedrógão, não é só em Góis, não é só lá longe onde a vista não alcança e de onde os únicos testemunhos são as notícias (podres) que chegam pela televisão e o cheiro a fumo intenso que faz prever o pior. pode ser aqui em São Lourenço, no Vale Glaciar, nas Moitas, em São Sebastião ou pode vir de longe, como a eles lhes aconteceu. o que é que podemos fazer para que a desgraça não seja a mesma caso o infortúnio bata também à nossa porta? somos meros leigos que apenas sabem que é importante manter as florestas limpas e a vegetação longe de casa, mas e mais? o que é que se pode fazer mais? os palpites não salvam vidas, são as ações que salvam.

terça-feira, 6 de junho de 2017

foi há muitos metros atrás

se a distância percorresse tantas vezes as vezes que nos perdemos do mundo, estaríamos tão longe de nós mesmos que nada nos faria regressar. estares perto e tão longe de ti é tão pobre como seres de ti e nada teres para te oferecer. fazes-te tão rebelde para as calmas e vagares que te foge entre os dedos a oportunidade de sinceridade e fortaleza que tanto anseias. a troco de pouco ou nada, a troco da venda da alma, o pouco de nada que ainda restou. faz algum sentido seres de ti e nada teres. nem a ti. nem a mim. nem à alma. nem à rebeldia. nem ao tempo. nada tens porque não és de ti, és de ninguém, és do mundo todo. os mais procurados vão chegar até ti, mostrar-te que nada pode ser melhor que encontrar a meia distância entre o perto e o longe, entre o tudo e o nada, entre o que é teu e a alma, que já não o é.

domingo, 4 de junho de 2017

o que queres saber.

falam mais do que se soubessem quem és, não estranham que te cales, que te entregues, cansas-te de explicar que não é assim, que o coração afinal faz mais falta do que para fazer o sangue correr. falas e falas mas pouco dizes e pouco te percebem. por não saberes como dizer ou porque simplesmente não há como te entender. nunca cais do auge de onde teimam não te deixar sair, nunca os podes desapontar. podes cansar-te de contar, podes contar pouco mais do que sabes, mas eles... eles sabem tudo e sabem exatamente nada do que precisas viver. cabes na palma da minha mão. tão solta, tão leve, tão pobre e tão pura. se te pudessem soprar, morrerias com as penas de uma pequena andorinha de primavera. se te quisessem guardar, fugirias com medo da solidão. quem souber dar-te o qb de livre e presa, terá de ti o mundo, saberá para que mais serve o coração.