Eram cinco da tarde, estava Salvador sentado numa cadeira metálica de uma esplanada perto da praia, com calções de banho coloridos, mesmo a chamar o Verão.
Era o vigésimo quarto dia de maio. O calor apertava e subia a vontade de experimentar a temperatura da água que se perdia na areia da praia Vasco da Gama, e que parecia tão apetecível como a cerveja gelada que César, o empregado do bar, tinha acabado de pousar na mesa.
Ainda se contavam pelos dedos as toalhas espalhadas pela praia. Estudantes acabados de sair das aulas e, com pouca ou nenhuma vontade de estudar para os exames que, daí a sensivelmente um mês, teriam de enfrentar.
Salvador tinha passado essa fase há cinco anos, estava no segundo ano do Mestrado em Desporto para Crianças com Necessidades Educativas Especiais (e que mestre!). Estudava em Lisboa, mas as idas a Sines eram quase uma constante. Prometeu a si mesmo que só deixaria de lá ir no dia em que Carolina (a sua namorada) aparecesse. Ou ela, ou qualquer sinal do seu fim.
Já tinham passado sete anos, mas Salvador nunca se perdoou pelo facto de não ter conseguido tirar o amor da sua vida do mar, antes de essa ser a última vez que a visse. Era sempre esse o seu pensamento, quando ia passar uma ou duas semanas a Sines. Tinha esperança que o mar o surpreendesse.
Salvador levantou-se, dirigiu-se ao balcão, cumprimentou a D. Paula, mãe de César e pediu a conta. Paula fez sinal de "Não, esta é por conta da casa". Salvador sorriu, em sinal de agradecimento e saiu. Não pronunciou um "Obrigado!". Era de poucas falas e D. Paula sabia disso.
Quando saía do bar, viu um grande aparato junto ao mar e correu para saber do que se tratava. Viu, lá longe, um braço esticado, em pedido de auxílio. Era uma sensação déjà vu horrível sobre os ombros de Salvador. Nem pensou. Correu e entrou no mar. Nadou como um louco e chegou perto do vulto que, visto da praia, parecia uma rapariga.
Como de facto, Salvador trouxe-a em braços até a areia. Tentou reanimá-la, mas nada resultava. Ao mesmo tempo que ele tentava que a rapariga acordasse, o resto das pessoas estavam à volta, curiosos com a sobrevivência ou morte da vítima. Ouviu-se uma sirene. César tinha ligado para os bombeiros, que não demoraram a chegar.
A rapariga acordou, engasgada com a água que tinha engolido. Salvador sorriu, de alívio! Deixou que os bombeiros fizessem o seu trabalho.
Antes de a ambulância partir, Salvador implorou ao enfermeiro que o deixasse acompanhá-la. A principio, o homem da bata branca recusou, mas ao ver as lágrimas de Salvador, acenou um tímido "Sim" e ele entrou apressado.
Sentou-se ao lado de Marta, era este o seu nome. Estava na sua carteira, junto à toalha. Salvador apertou-lhe a mão e disse:
- Vais ficar bem! Prometo!