um dia vamos separar-nos mesmo. sentiremos
saudades de todas as conversas atiradas fora, as descobertas que fizemos, dos
sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos… saudades até dos momentos de
lágrimas, da angústia, do companheirismo vivido. sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. hoje já não tenho tanta
certeza disso. talvez pelo que a vida me tem ensinado. continuo a acreditar na amizade eterna, mas sob uma forma diferente que ainda não conhecemos. a amizade da saudade, do conforto, da recordação. cada uma vai escolher o seu caminho e vamos magoar-nos muito. podemos telefonar, conversar e
recordar tolices, mas nada vai ser como antes. os dias irão passar, meses, anos,
até o contacto se tornar cada vez mais raro ou inexistente. vamos perder-nos no
tempo. um dia os nossos filhos verão
aquelas fotografias e perguntarão: quem é esta? vou dizer-lhes que era a minha melhor amiga. e vai doer tanto! foi minha amiga durante anos, e com ela vivi alguns dos melhores anos da minha vida. a saudade vai apertar. vai
chegar uma vontade de chorar, ligar, ouvir a tua voz… mas há que pensar duas vezes
antes de o fazer, para não interferir numa vida construída longe da nossa
amizade. por isso, deixo um pedido especial: não deixes que a
vida passe em branco, e que pequenas adversidades da vida sejam desculpa para
as grandes tempestades que causamos. eu poderia suportar, embora
não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se
morresses tu, que te tornaste tão especial, numa amizade tão bonita, que nunca hei de esquecer!
Adaptação de Fernando Pessoa