quinta-feira, 24 de novembro de 2016

um ano é muito tempo


Um ano passou por mim, passou pela sua ida sem volta, passou pelas saudades de si, que tenho e terei para sempre. Passou um ano desde que o seu olhar se escondeu lá onde me espera. Este é o primeiro ano que separa a minha presença da sua, e já é tanto. Este ano ainda não comi míscaros, nem tortulhos, porque ninguém tem a sua paciência para os descascar. Também nunca mais vi as castanhas do caniço, porque ninguém teve a sua paciência para as acabar de secar. Estamos em pleno outono e foi nesta data que, tal como as folhinhas, me caiu aos pés a notícia de que não ia mais ver esse seu sorriso encolhido e matreiro... Ver aquele gesto de troça com os dedos que mais ninguém consegue imitar, ou ouvir o 'futcarrici' que tantas vezes nos fazia rir. A dor não se transforma em saudade como vem nos livros, aprende-se a viver com ela, com a ajuda do amor, porque o amor pelos nossos também não vem nos livros, vem de dentro. E o meu amor por si é como as saudades que sinto... é eterno.

domingo, 25 de setembro de 2016

dias que são mesmo dias

há dias que nos marcam pela sua grandeza, pela importância dos acontecimentos, pela nossa dedicação às oportunidades. depois há os dias normais. os dias normais, aqueles que ninguém dá um tostão por eles mas que se tornam fenómenos de alegria, boa disposição e vida. é só disso que precisamos: vida. hoje foi um desses dias normais. não que não desse nada por ele, mas o plano não estava traçado, estava meio. se calhar é isso que nos falta também, para além de vida, faltam-nos linhas apagadas no chão e a possibilidade de, a cada passo, construir um novo caminho.
dava tudo por um dia destes uma vez por semana!

domingo, 7 de agosto de 2016

estarei aqui quando pedires
mesmo quando a voz te falhar
quando as lágrimas te taparem o olhar
ou o silêncio se apoderar de ti
mesmo que as ondas do mar não cheguem mais a terra ou que as árvores não abanem mais ao toque do vento
mesmo que o sol não me aqueça mais
mesmo que o ar não me deixe respirar
mesmo que os pássaros não voem mais ou a água não corra mais debaixo daquela ponte
mesmo que o trânsito pare para me deixar passar ou que avance sem sequer em mim reparar
mesmo que não estejas aí quando eu gritar
mesmo que a vida te leve pra longe e te apague do infinito
há um lugar onde vais estar sempre e onde poderás abrigar-te se te apetecer voltar
em mim.

queremos ou cremos?

a sabedoria que acalma os sentidos da alma quebra o olhar. pudéssemos livrar-nos do que não sabemos e de nada serviria procurar o sentido do querer e do sentir. ainda é o poder da procura que nos mantém hirtos, que nos faz querer ser mais e melhores, querer ser mais felizes e melhores com os outros. é na mais genial das memórias que se constrói o passadiço para o esquecimento, passamos a soltar o que não faz falta e cremos que o tempo tudo cura e que será melhor o dia de amanhã. somos senhores e donos do saber e julgamos ter na mão todo e qualquer sinal de futuro. teremos? será que queremos ter esse poder?

terça-feira, 19 de julho de 2016

palavras são tretas?

palavras são só letras
são só confusões paradas
não passam de tretas
a aguardar serem encontradas
são testemunhos ricos
satisfeitos por humanos
tensos e poderosos
que esperam por ouvir
a palavra 'amor' certa
para o caminho a seguir

terça-feira, 5 de julho de 2016

verania

sobejam luzes amarelas
crescem sorrisos falsos
partem corpos enfadados
soltos em pleno verão
mártires de saltos altos
derrete-se o gelo quebrado
derretem-se as memórias
derrete-se a presença futura
mais do que um sacrifício
canta-se ao som das histórias

segunda-feira, 4 de julho de 2016

tudo tem um fim

se não houvesse dias
se não houvesse noites
dias e noites que provassem
que mostrassem, que sentissem
não doía tanto a mentira
não saía tanto do rosto
não ouvia tanto o coração.

quem mente uma vez
mente duas, mente três
perde a noção do ser
do amar, do querer.

tirada uma pétala
nenhuma flor volta
arrancado o coração
todo o amor se revolta.

aguardo ansiosa que não venhas
que não mintas mais
que não contes mais
não posso cobrar mais do que deste
morro de alegria pela escolha que fizeste.

Fuga

Olhas para o céu
E queres voar não é?

Fugir dos problemas, da realidade?
Mas lembra-te, a vida é só um dia.
Não transformes a tua vida
Em algo que não é.

Deixa o destino seguir,
Liberta-te da tristeza.
Encara a realidade de maneira realista
E aceita o que a vida te dá.
E depois olhas
Pensas que volta tudo igual
Só que a graça perdeu-se
A imaginação esqueceu-se de ti
E tu vives atulhada de pensamentos
Que mais do que razão
Dão-te cabo do coração


sábado, 2 de julho de 2016

Ai ai Fernando!

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar, 
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.

Fernando Pessoa

Obrigada e bem-haja!

No dia em que ali cheguei as pernas tremiam. Nem me lembro bem de pormenores desse dia. Não sabia o que me esperava, sabia apenas que esta iria ser uma das melhores experiências da minha vida e uma enorme aprendizagem. Estava longe de imaginar que iriam ser também alguns dos melhores dias da minha vida. Pela experiência, pela aprendizagem mas, acima de tudo, pelas pessoas que ali encontrei. Como digo sempre, são as pessoas que fazem o meu mundo e, ali, encontrei algumas das melhores que um deus criou.
A parte mais difícil no início foi decorar os nomes. É horrível e extremamente irritante estar sempre a dizer "Desculpe, como é que se chama? Esqueço-me sempre do seu nome". Grande mentira! Nunca o cheguei a decorar. Não por mal ou desinteresse, mas porque realmente é muita informação para as primeiras oito horas, mas depois foi encaixando aos poucos.
Não foi difícil ambientar-me e sinceramente não há ninguém que eu possa dizer que, no primeiro dia, não tenha gostado. Aliás nem no primeiro nem no último, porque de facto, ali há seres humanos incríveis. Não perfeitos, mas incríveis.
Aprendi que rir é realmente o melhor remédio, mas que chorar faz muita falta. Aprendi que o humor se coaduna com a doença e a morte, e que esta, por mais dolorosa que seja, traz sempre algo de bom, tem sempre algo para nos ensinar. Reforcei a aprendizagem de que o idoso é o maior poço de sabedoria que existe e que um idoso doente e a morrer, com consciência disso, sabe dez vezes mais. Aprendi que às vezes o melhor som é o silêncio e que estar é muito mais importante do que falar. Validei que de facto não é o doente que me deve agradecimentos, mas sim eu a ele, devo o maior obrigada do mundo por tudo o que me ensina e por me deixar entrar tão livremente na sua vida e na dos seus. Aprendi que não faz mal apegar-me a um doente e ficar com um pedacinho dele no meu coração. Aprendi tantas outras coisas (algumas que nem imaginava que existiam).
Aprendi sobretudo que a vida acaba sempre por me surpreender mais e mais e mais, pondo no meu caminho as pessoas que mereço. E sou tão agradecida por isso!
Levo cada um de vós (sem exceção) no meu coração, para que, um dia, no fim da minha vida, me lembre que houve pessoas que realmente me deram sentido.

Um agradecimento muito especial à Dra. Susana, pelo que me ensinou, pela paciência, pelas partilhas, por me dar tantas oportunidades para me tornar melhor. Melhor profissional e melhor pessoa.
Graus académicos à parte, Alice, Cátia, Céu, Conceição Pardal, Conceição Toscano, Dora, Elsa, Francisco, Lourdes, Lurdes, Inês, Iria, Isabel, Joana, José Nuno, Manuela, Margarida, Maria José, Mário, Nuno, Rosa, Sandra, Sara Costa, Sara Oliveira, Susana, Vítor, a todos vocês e a toda a restante equipa do HAJC, obrigada!
a importância que as pessoas têm na minha vida é diretamente proporcional à felicidade que me causam. o topo pertence a muito poucos, mas são os que me fazem mais feliz. haja amor e alegria!

quarta-feira, 29 de junho de 2016

tempo

sobre o tempo fazer-se lento
peço só que não voltes para cá
que te esqueças do tempo
que vás e não voltes mais
peço mais do que podes fazer
sacrifico o tempo que gastei
tempo que apenas não perdi
por saber demais o que senti

terça-feira, 28 de junho de 2016

o outro lado

e aos poucos, sem ter medo
descobres o novo lado
que se mostra envergonhado
segredando ao ouvido
o que por agora fará sentido
o que mais tarde pode ficar
ou desaparecer nas ondas do mar
afundar-se na memória
como simples linhas marcadas
e lágrimas atormentadas
na tua vida, na tua história

terça-feira, 21 de junho de 2016

RESPEITO? QUE ANIMAL É ESSE?

hoje assisti a um momento de pura estupidez humana! ainda estou em choque porque, de facto, é revoltante ver situações de discriminação na televisão mas não se compara em nada com o facto de presenciá-las, mesmo ali à frente dos nossos olhos. são situações que parecem tiradas de um documentário ou de um filme, mas que nos deixam de queixo caído quando chegamos a casa e pensamos "sim, isto aconteceu mesmo".
um pequeno passeio por um parque, que deveria ser protetor em relação ao dia que está a acabar, acabou por se transformar num momento de vergonha pela espécie humana.
dois rapazes, namorados, sentados num banco. foi este o mote para a situação que já estava a acontecer quando cheguei. nenhum deles era português, o que ainda me revoltou mais, já que não se puderam defender. era apenas um casal que provavelmente escolheu uma cidade portuguesa para passar férias. até aqui tudo nos conformes, não fosse o amontoado de pessoas que estava a olhar para eles a alguns metros de distância. para eles e para um 'senhor' na casa dos 30 e poucos anos acompanhado de uma menina com cerca de 8 ou 9 anos.
parei e esperei para ver o que estava a acontecer. tal como imaginei, uma situação clara de homofobia, de discriminação, de preconceito, de ódio.
o 'senhor' tinha um discurso tão estridente, tão desengonçado, tentando justificar a sua discriminação com argumentos como "vocês não encontraram nenhuma 'gaja' que vos pegasse e decidiram juntar os trapinhos foi?". volto a frisar que nenhum dos dois agredidos falava português, pelo menos não o manifestaram, mas perceberam obviamente que se tratava de um discurso de ódio, pelos gestos suburbanos que o 'senhor' fazia. isto tudo acontecia enquanto umas dez pessoas assistiam, como se de uma discussão de vizinhos se tratasse.
quando percebi o que se estava a passar perguntei se já alguém tinha feito alguma coisa. todos acenaram que não, num descarte impressionante. uma mulher da 'plateia' viu que avancei em direção a eles e veio atrás de mim (mas apenas para ver o que eu ia fazer, não para ajudar). questionei a situação e o 'senhor' insultou-me também e virou-me as costas. dirigi-me aos rapazes e com o meu fraco inglês ofereci ajuda e indiquei a direção do posto da GNR, que não ficava muito longe. espero mesmo que tenham feito queixa. para o 'senhor' só consegui dizer estas palavras "espero, sinceramente, que um dia a sua filha lhe apresente uma nora e não um genro".
é incrível como as pessoas não têm a mínima noção do ridículo a que se expõem ao ter este tipo de discurso. que pai é este? que educação estará a receber esta criança? como é que esta criança se vai comportar quando crescer? tenho medo, tenho muito medo do rumo que as novas gerações estão a receber. isto acontece todos os dias, em todo o país. o preconceito cega as pessoas.
é o triste de teres de esconder
é saberes o que do lado de lá virá
sabes à partida que vais perder
mesmo assim ganhas a coragem que te falta
e que nunca surgirá.
quebras as barreiras do teu ser
sobes a escada do teu ego
e encontras paz no que menos espera.
despedes-te de uma ideia aflitiva
sufocas o pensamento que te tortura
ganhas asas e voas.

liberdade

sabes o que é ser livre?
sentir o vento bater na cara
prender a respiração no peito
sentir o coração que te amarra
sabes, não sabes?
querer viver no esquecimento
por vias podres de sentir
tão podres de sentimento

domingo, 19 de junho de 2016

é ela

ela tem um sorriso maravilhoso.
ela tem uma gargalhada inigualável.
ela sabe que eu quero uma cerveja mesmo quando digo que não vou beber.
ela faz tudo para conseguir o que quer, mas não faz mal a ninguém para isso.
ela adora os velhotes, mas derrete ao ver uma criança.
ela sabe que eu não gosto de dançar mas acha sempre que me vai convencer.
ela diz que está a sair de casa mas ainda não se calçou nem vestiu o casaco.
ela faz-me esperar duas horas na rua, mas sabe que não me importo, se isso a faz feliz.
ela quer tomar café mas ás vezes diz 'apetece-te mesmo ir?' e aí percebemos que estamos em sintonia.
ela diz que não gosta daquela minha camisola mas eu volto a vestir, e ela volta a dizer que não gosta.
ela diz os disparates mais engraçados sem se aperceber.
ela não chora muitas vezes acompanhada porque acha que deve proteger os outros.
ela é incrível.
ela é bem disposta.
ela é feliz mesmo que por momentos se sinta triste, mas sabe que a balança da vida tende sempre para mais do que para menos.
ela... é a minha melhor amiga.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

morreu alguém?

e sem sequer dar conta
o mundo corre sem parar
com os olhos 'empalados'
sem noção da dor
sem temer o fim
caçando movimentos
de coração em peito aberto

é-se tudo
foge-se de nada

enquanto isso
quem chora vive
quem morre fica em paz.

terça-feira, 14 de junho de 2016

quente

Saboreia como doce
O amargo quente ser
Que sem sequer saber
Corre pensando que fosse
Quente como amor
Ferido sem temer
A história da relíquia
Que jamais irá perder.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Se há, não sei

Se houve, um dia saberei

Se houver, esperarei

Como me ensinaste tanto

Como me mostraste tanto

Como te sentiste tão minha

Sem ser um nada

Sem ser uma sombra

Sem ser uma amiga

Sendo apenas tu

Sendo apenas minha

Sendo apenas tudo

quarta-feira, 4 de maio de 2016

o sentido da vida

    Falar sobre o sentido da vida talvez seja mais fácil do que encontrá-lo. Podemos olhar para o sentido da vida em dois sentidos: o do seguimento, da trajetória, do caminho que percorremos (“por onde” vamos na vida) ou então, o sentido enquanto significado e valor que lhe damos (“como” vamos na vida). Um e outro cruzam-se no momento em que decidimos procurar por onde, e de que maneira seguir. A procura pelo sentido da vida é um assunto particularmente controverso, porque é, sem nos apercebermos, o que nos faz viver, mas vejamos que o Homem é um ser insatisfeito por natureza e vive dependente das suas procuras e dos seus encontros.
    O sentido da vida não é uma meta que queremos alcançar – ou pelo menos não devia ser, sob pena de nunca lá chegarmos –, é um caminho que devemos percorrer. E é nesse caminho que vamos encontrando o que precisamos. Por exemplo, por vezes é preciso encontrar no mundo de alguém o que falta no nosso. E porquê? Porque somos apenas um grãozinho de uma praia maior. Porque o nosso caminho é feito de pessoas e são as pessoas que fazem o nosso mundo. São as pessoas e aquilo que representam para nós, aquilo que nos dão e que damos, porque a melhor forma de nos darmos aos outros não é com base no que somos, é com base no que eles são para nós.
    Muitas pessoas que nos chegam passaram toda a sua vida na busca por um sentido, por algo que nem sabiam se existia e, chegada a reta final, esta incerteza desgasta-os. É isto que lhes causa sofrimento, mais do que a dor, é o medo de não terem vivido ou de terem vivido enganados. Para nós, enquanto profissionais, o sentido da vida também passa por dar sentido a estas e outras vidas. O nosso papel também é recordá-los de que viveram com um propósito e que fizeram e fazem a diferença na vida de alguém. É o que procuramos todos os dias, em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar, em cada afeto.
    O sentido da vida é, portanto, tudo o que nos mantém vivos, é a flor que ainda não cheirámos, é o gelado que ainda não provámos, é a viagem que ainda não fizemos, são as pessoas que amamos, são os sonhos que ainda não concretizámos e aqueles que já nos fizeram felizes, é o carinho que damos, que nos dão e aquele que ainda está em dívida. É tudo aquilo que nos acompanha na caminhada da vida.
    Tropeçamos algumas vezes, e também caímos, questionamos a existência do ser superior em que tanto cremos. Um pai vê partir o seu filho, uma esposa vê partir o marido, antes mesmo de viver o amor que juraram. Que sentido é que isto faz? Que ordem anti natura é esta? A revolta toma conta de nós. Que sentido é que se dá à vida, numa vida assim? É o mundo a medir forças connosco? A testar até onde podemos ir? Perder, é inaceitável para quem ama. É aqui, é nestes momentos que mais questionamos o sentido da vida. Questionamos se ele realmente existe…
    À medida que os anos vão passando e que a vida nos surpreende, cabe a cada um de nós procurar caminhos, encontrar respostas, fazer escolhas, agarrar experiências que nos enriqueçam, procurar dar-nos mais, fazer mais, fazer melhor, procurando tudo o que nos faça sentido – o sentido da vida!
    Só quem fizer esta caminhada descobrirá o seu propósito, porque o sentido da vida é ir encontrando, na vida, algo que faça sentido.